Cidade maranhense é a capital brasileira que registra índice mais elevado da doença; causa estaria ligada à alta presença de animais soltos.
População de São Luís convive com cães nas ruas e teme que animais transmitam a raiva (Foto: bbc)
Em julho, duas pessoas morreram em São Luís vitimadas pela raiva humana. A repercussão negativa das mortes chamou a atenção para um dado que grande parte da população brasileira ignorava: dos 70 casos registrados no país em 2011, 55 ocorreram no Maranhão, a maioria na capital.
Alarmados, os moradores passaram a pressionar as autoridades, cobrando o recolhimento de milhares de cães e gatos abandonados nas ruas da cidade, tidos como os grandes responsáveis pelo avanço da doença.
A alta concentração de animais soltos nas ruas de São Luís é uma característica da capital maranhense há anos. Não se trata de um fenômeno que aflige apenas as regiões da periferia, embora nelas o contingente de animais, principalmente cães, obrigue a população a disputar espaço com eles nas ruas.
Nas feiras e nos mercados populares da cidade, a situação beira o caos. Animais que aguardam por restos de alimentos atacam constantemente as pessoas.
CAMPANHA DE VACINAÇÃO
A raiva é uma doença típica de cães e gatos, que pode ser transmitida aos homens – considerada, portanto, uma zoonose. O vírus causador da doença é mortal tanto em humanos quanto em animais.
Embora São Luís tenha um alto contingente de bichos abandonados nas ruas, as campanhas de vacinação e recolhimento deles não vinham sendo feitas regularmente até o registro das mortes, quando as autoridades sanitárias iniciaram uma ação em agosto para vacinar tanto os animais soltos nas ruas quanto os domésticos.
Só este ano, foram registrados mais de 20 casos de raiva animal em São Luís. Com o início da campanha, a Secretaria de Vigilância em Saúde montou postos de vacinação em vários pontos da cidade, mas na periferia e na zona rural, onde as mortes de duas pessoas foram registradas, os moradores reclamam da ausência de uma ação verdadeiramente efetiva para impedir o avanço da doença.
Um homem que vive no bairro do Tibiri, indentificado apenas como Alexandre, chama a atenção para o fato de que os cães de rua não foram vacinados: ''Não se vê nas ruas nenhuma movimentação para recolher tantos cachorros que vagam por aí. A gente é obrigado a andar com medo de ser atacado pelos animais, porque nunca se sabe se eles podem estar com a doença''.
Outros moradores dizem que os postos de vacinação não dão conta das demandas da população, uma vez que a maioria dos moradores sente dificuldades para se deslocar até eles.
Lilian Nascimento, moradora do bairro São Raimundo, na zona rural, afirma que não levou seu animal para se vacinar justamente por causa da distância dos postos. ''Eles abriram um posto de vacinação muito longe da minha casa, e o prazo para levar os animais era de apenas um dia. Acho que o posto deveria abrir toda semana, ou então a prefeitura deveria passar na casa das pessoas''.
A moradora Mayana Nunes conta ter levado sua gata para vacinar, mas diz que ''o problema são os cães de rua. Ninguém toma uma providência para tirar tantos bichos abandonados. Eles sujam as ruas e muitos estão doentes. Tem gente morrendo dessa doença por causa disso".
ESTRUTURA PEQUENA
Procurado para dar informações a respeito das reclamações dos moradores, o secretário-adjunto de Vigilância em Saúde do Maranhão, Alberto Carneiro, diz que, segundo os relatórios encaminhados pelo Setor de Zoonoses da Prefeitura de São Luís, este ano foram vacinados 108 mil cães e 27 mil gatos.
No bairro do Tibiri, região onde foi constatado um caso de raiva, a Prefeitura diz ter vacinado 1.354 animais.
Apesar da quantidade cães e gatos vacinados, o município tem um número reduzido de equipes de apreensão. Apenas 1.142 aninais foram recolhidos até o momento, graças a três viaturas equipadas com carrocinha.
Segundo Carneiro, ''a localização dos postos foi feita de modo a atingir as metas pactuadas, e a Secretaria Adjunta de Vigilância em Saúde tem supervisionado a execução desses trabalhos, principalmente no que diz respeito à captura de cães e gatos não domiciliados''.
Lígia Teixeira, de 35 anos, é natural de São Luís e é autora de um blog que reúne textos sobre a situação social e a política da capital maranhense.
Este texto integra o Palanque BBC, uma série da BBC Brasil com textos assinados por blogueiros de diferentes capitais brasileiras sobre os problemas que afetam essas cidades.
Fonte: G1
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